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Café encapsulado é desafio para empresas e consumidores na hora da reciclagem ​​

Segundo pesquisas, o reaproveitamento da cápsula continua sendo um problema, mesmo com coleta seletiva, artesanato e práticas ecológicas

Por Bruno Presado

Fotos: Redes sociais, Ascom Slum, Orfeu e Wix

“Sustentabilidade é o ato de fazer arte. E aprendi isso aos poucos. Quando percebi o impacto dos poluentes no meio ambiente, mudei minha forma de produzir. Aqui no ateliê, nada vai para o lixo. Dá pra criar tudo”. Daniela Fonseca dá exemplo de consumo consciente. A artesã alagoana percebeu a deficiência das políticas públicas para incentivar ideias criativas de reaproveitamento e, após pesquisas, decidiu agir para diminuir seu impacto no meio ambiente. A partir disso, resolveu coletar materiais descartáveis para produção de peças e criou a própria empresa. “Como empreendedora, sinto dificuldade ao apresentar o produto reciclado e ser valorizada”, ressaltou.

A produção é lenta, cheia de detalhes e caprichos. O ateliê vira uma indústria criativa. Daniela dedica várias horas testando maneiras de modificar materiais inusitados, que seriam descartados, em acessórios que incentivam o estilo de vida mais saudável e consciente. Fios são entrelaçados em pulseiras, arames viram braceletes de pescoço, e cápsulas de café são amassadas e transformadas em pequenos pingentes. “Quando descartadas erroneamente, as cápsulas são ofensivas por serem confeccionadas com alumínio, que levam milhões de anos para se decompor”, explicou a artesã, que está preocupada com o uso indiscriminado do café encapsulado.

A preocupação de Daniela não é bobagem. A relação do brasileiro com o café cultivado é de longa data. As primeiras mudas do grão chegaram nos anos 1700 pelos caminhos de Belém (PA) e o cultivo rapidamente se popularizou no país. Para continuar a crescer, o setor cafeicultor investiu em outras roupagens do grão, como as cápsulas de alumínio, para oferecer mais praticidade aos apaixonados pela bebida. E os problemas apareceram. Com inovações, a indústria não providenciou a destinação adequada aos seus resíduos, conforme determinado pela Política Nacional dos Resíduos Sólidos (PNRS), como pontos de coletas ou informações para reciclagem do material.

A indústria classifica as cápsulas como objetos recicláveis, mas, segundo as últimas pesquisas da associação de consumidores Proteste e pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), a reutilização do material é praticamente inviável no Brasil. Apenas 18% dos municípios do país contam com sistemas públicos de reciclagem, para onde vai parte do lixo recolhido. Para reduzir poluentes, e facilitar o processo de transformação, a Orfeu virou exemplo de empreendimento sustentável e inovador. Desde 2017, a fabricante resolveu investir na produção de café encapsulado a partir do bioplástico compostável à base de fontes renováveis, como algodão e soja, livre de transgênicos e alumínio.

Quando descartadas erroneamente, as cápsulas são ofensivas por serem confeccionadas com alumínio, que levam milhões de anos para se decompor

Daniela Fonseca, artesã

“Nossas cápsulas são biodegradáveis e compostáveis, portanto ao ser descartada em tratamento de lixo orgânico, ela segue seu ciclo na natureza e se transforma em adubo em até 4 meses e não precisa ser reaproveitada. Em métodos de compostagem acelerados, como em uma composteira elétrica doméstica, a cápsula se transforma em material orgânico em apenas 7 horas. Entendemos que o Biodegradável não é melhor, nem pior que um material Reciclável. Estes são materiais diferentes, cada um com sua aplicabilidade e rota de reciclagem”, explica Tiago Ebisui, gerente de marketing da Orfeu.

Em Maceió, três cooperativas de catadores trabalham com a separação e comercialização de resíduos recicláveis. Parte do material separado vai para cooperativas e, lá, as máquinas compactam o material triado pelos trabalhadores para revender por atravessadores. A prefeitura está empenhada para reduzir poluentes na capital e, por isso, investiu em coletas seletivas em bairros mais populosos. “A conscientização precisa ser geral e individual. Isso é muito deficiente no ensino das escolas quanto nas pautas da mídia. Reciclar não é ser politicamente correto, é questão de sobrevivência do nosso meio ambiente. A prefeitura precisa trabalhar com a cultura da população”, ressalta a artesã.

 

Até março, a coleta seletiva virou realidade para 18 mil famílias na capital alagoana. O processo é simples. Elas são cadastradas pela prefeitura, recebem instruções e são estimuladas a separar o lixo por tipos de materiais. A ideia é aproveitar o fechamento dos famosos lixões para redução de poluentes. “Nós temos um modelo pioneiro. As pessoas têm vindo estudar esse modelo, porque conseguimos dobrar a renda dos catadores e seguimos desenvolvendo ações, com as cooperativas, para gerar emprego e renda”, disse o prefeito de Maceió, Rui Palmeira, no I Simpósio de Coleta Seletiva de Alagoas.

O lixo não é o único transtorno provocado por produtos industrializados. O aumento no consumo de ultraprocessados empobrece a alimentação por falta de fibras e nutrientes de alimentos naturais. “Hoje em dia, usamos a desculpa da praticidade para consumir os industrializados, a dica é deixar esse tipo de alimento para emergências, quando não tiver algo mais natural a mão. Estimular a reciclagem, estimular os produtores de hortifruti locais, e educar as crianças para terem uma alimentação saudável são atitudes fundamentais”, explica a nutricionista, Joana Regueira, que desaconselha o consumo de café encapsulado sem base orgânica.

Entendemos que o biodegradável não é melhor, nem pior que um material reciclável. Cada um com sua aplicabilidade

Tiago Ebisui, gerente de marketing da Orfeu.

Consciente, a Orfeu contribui na conservação de recursos naturais no uso de práticas ecológicas nas plantações. A fabricante investiu no processo minucioso para redução de pragas e a deterioração do grão de café com baixa toxicidade na Fazenda Sertãozinho, em Minas Gerais. “Ou seja, a produção é menos tóxica para o ambiente e para o consumidor. Usamos um defensivo biodegradável, ou seja, ele é absorvido pelo solo sem prejudicar a nossa saúde. Temos esse cuidado com o cliente. Afinal, o café em cápsulas é a categoria que mais cresce tanto em valor quanto em volume no setor”, disse Tiago.

 

Tudo simples e fácil. Apenas com um toque, a praticidade é a escolha do consumidor que busca qualidade da bebida sem erros na mistura dos ingredientes, mas, o preço que se paga por isso pode ser alto. “Não podemos confiar em qualquer marca no mercado, temos que procurar sempre pelo orgânico. O café moído na hora será livre de conservantes e mais benéfico à saúde. Encapsulado, caímos no conto da facilidade, onde temos várias opções de sabores, e ingerimos doses químicas de produtos. Farinha branca é o maior exemplo, pense em quantos processos existem até chegar no aspecto ultrafino e completamente branco que aquele cereal passou.”, esclarece a nutricionista.

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